sexta-feira, 26 de abril de 2013

Ten colors.

Eu disse 10 cores, aí só tem 6, tenkara é muuuito mais colorida!
http://3.bp.blogspot.com

No Japão se costuma dizer entre os pescadores que "tenkara is ten colors", ou que tenkara tem 10 cores. Isso é uma referência as muitas correntes de pensamento, uso de
práticas, técnicas, equipamentos e iscas ligeiramente diferenciadas dentro da mesma modalidade. 

Ou seja, ninguém tem a mesma visão  e pesca com tenkara (ou qualquer outra modalidade),  da mesma forma ainda que frequentem os mesmos ambientes e pesquem as mesmas espécies.

Se isso é verdade lá onde as variações de peixes e ambientes de pesca são poucas, imagine como a modalidade pode evoluir por aqui num país continental onde  essa diversificação é muito maior.

É óbvio que adaptações vão acontecer. Como elas irão acontecer só o tempo dirá.

Pra mim o importante é manter uma atitude de mente aberta sem preciosismos fundamentalistas mas também sem apelar pra gambiarras.  A técnica original praticada no Japão (linha leve, isca leve) pode ser perfeitamente praticada aqui em rios e lagos onde existam peixes com uma dieta baseada em insetos.

Mas pra peixes predadores ou os onívoros (pacus e congêneres), algumas coisas tem que ser melhor adaptadas. Alguns de nossos peixes são bem mais fortes e podem exigir varas diferenciadas feitas com blanks mais potentes (keiryu) que os originais projetados pra tenkara.

Tem também a questão das iscas que aqui podem ser bem mais volumosas e vão exigir linhas mais pesadas pra serem apresentadas  de forma adequada.

Acredito (minha opinião apenas), que as varas tenkara ocidentais mais e mais ficarão com a ação próxima a de uma vara de fly. O primeiro exemplo disso veio da TFO que lançou no ano passado a primeira vara tenkara produzida por uma grande companhia  do fly tradicional  e o projeto se mostrou muito acertado pra realidade ocidental. 

O principal diferencial dela é a ponta mais rígida que nas tenkara japonesas e permite lançar
iscas mais volumosas, oferece melhor precisão no arremesso e ferradas mais fortes. Uma vara com a qual se pode praticar a pesca com ninfas lastreadas (czhec nymph) que é um estilo onde as tenkara originais não se saem muito bem.

Ainda é cedo pra saber se  as outras gigantes do fly (Orvis, Sage, Scott, St. Croix, etc) vão entrar na disputa deste novo mercado e, caso entrem, se vão seguir a  mesma fórmula da TFO.

Eu honestamente espero que entrem, quanto mais concorrência (e cores) tanto melhor. 

    TFO, a primeira gigante do fly a se render a tenkara, espero q não seja a única.
http://www.tenkarabum.com



segunda-feira, 22 de abril de 2013

Limites e limitações.


Tenkara tem limitações naturais relativas a natureza do próprio equipamento. As mais relevantes são: 
Como assim não tem freio?!
Imagem: http://www.orapois.com.br/

1- Distância curta de arremesso; 
2- falta de um sistema de freio;
3- não se pode ferrar o peixe na linha, 
a ferrada é sempre com ponta de vara.

Isso demanda por parte do pescador um pouco mais de planejamento, astúcia e oportunismo. Cometer um erro de planejamento é ruim em qualquer modalidade mas na tenkara o resultado pode ser ainda pior.

Por exemplo, usar o tippet errado (acima do recomendado pelo fabricante da vara) pode representar a quebra do equipamento uma vez q não se dispõe de linha 
reserva (backing) nem fricção pra poder combater um improvável (mas não impossível) peixe bem acima da medida que apareça de surpresa! Por isso usar tippet fino e de baixa resistência é essencial mas caso se parta na busca de peixes com dentes
ou boca abrasiva pode-se contornar a situação usando um shock tippet (empate).


Tem peixe aí?
Com tenkara, além de exercitar mais o cérebro, por (várias) vezes é preciso exercitar mais as pernas também.
Como o arremesso é curto há ocasiões nas quais é necessário contornar obstáculos e fazer certos malabarismos pra se chegar próximo do peixe.

Certa feita fui tentar os baby tarpons num canal de mangue. Chegando lá ví movimentação de peixes na água mas
não eram eles e sim pequenos robalos que estavam na área.
Normalmente quando pesco os pequenos tarpons não uso shock tippet já q a boca deles nem de longe é tão abrasiva
quanto a dos robalos, e como estava usando um tippet 4X (0,18 mm) de fluor carbono achei que daria conta dos pequenos robalos como de fato deu.

Depois notei  mais ao fundo do canal, numa área fechada de mangue onde meu arremesso com tenkara não chegava,
havia uma movimentação maior. Comecei a me esgueirar pelo mangue naquela direção me ralando por cima das raízes além de suar um bocado até chegar lá. 
Até ali fiz (quase) tudo certo exceto que não me liguei de colocar um shock tippet pois não acreditava ter lá um robalo maior por ser raso e estreito.
Mas a Lei de Murphy não perdoa, foi jogar a isca nágua, Fazer o trabalho e um robalo dos seus 40 cm saído não sei de onde
Sem empate (shock tippet), bobeou, dançou!
abocanhou a isca, partiu o tippet e foi-se embora arruinando meu esforço e minha estratégia.

Claro, depois daquele episódio coloquei o shock tippet mas aí já era tarde, o peixe não voltou mais a atacar.

Aprendí alí que com tenkara toda (e qualquer) chance deve ser vista como  única e última.

Não estou escrevendo isso pra desestimular possíveis futuros adeptos da modalidade, é apenas pra bater a real
de como a coisa funciona no detalhe.

Na verdade os limites naturais da modalidade são todos superáveis. O que é mais difícil de superar mesmo
são as nossas próprias limitações.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Sobre tippets e fusíveis!


  Depois que a tenkara saiu do Japão é comum ver internet a fora capturas de espécies exóticas a modalidade e de tamanhos bem acima do comum.

Reclusa ao ambiente para o qual ela foi criada, os riachos de montanha, a tenkara nunca foi vista ou pensada como técnica para capturas de peixes acima dos 50 centímetros.

Mas chegando ao ocidente onde a variedade de espécies é bem maior o equipamento e a técnica foram submetidos a
novos ambientes e desafios. Algumas capturas feitas com tenkara extrapolam o nível do razoável pra um equipamento leve e nos fazem pensar erroneamente que não há limites pra modalidade.

Mas eles existem sim, são subjetivos e há uma tolerância como em qualquer outra modalidade mas o fato é que tenkara foi desenvolvida pra peixes 
de pequeno a médio porte e de modo geral, embora exceções  sempre existam, a regra ancestral continua valendo.
Quase 50 cm de peixe com tippet 4X, no limite!

O que não se vê e nem se ouve falar muito é sobre varas tenkara quebradas. As quebras no entanto tem ocorrido com frequência, mas normalmente as pessoas não costumam reportar este tipo de coisa principalmente quando elas sabem que tal fato ocorreu por que se empolgaram e excederam o limite do equipamento.

Então como explicar aquela captura bem acima dos limites?
Bem, muito fatores entram nessa equação. Vai depender do peixe, do local , da habilidade do pescador e eu
suspeito que em alguns casos os tippets usados deveriam estar acima da resistência recomendada.
Como eu disse antes, exceções existem, mas não devemos jamais confundi-las com a regra.

Outra coisa é a questão ética: Se você pretende soltar o peixe, leva-lo a exaustão na hora da briga não vai ajudar na 
sobrevivência do mesmo. Varas tenkara tem uma ação flexível desenvolvida pra proteger tippets finos e cansar o peixe.

Quando o peixe está dentro do patamar da modalidade a briga acaba logo e você solta o mesmo sem prejuízo. Mas quando a captura está muito além do razoável a briga se estende por um tempo demasiado longo e o nível de stress, tanto pro equipamento quanto pro animal, pode ser fatal.

Como então divisar qual seria o porte de peixe adequado para o equipamento?
Isso é difícil e espinhoso de se definir por que uma truta de 50 cm não tem a força de um tambaqui do mesmo porte.

A melhor maneira é simplificar, ser minimalista. 
Ao invés de criar complicadas tabelas de peixes e seus portes adequados, basta respeitar o limite do equipamento usando o tippet indicado pelo fabricante. 
http://blogdoefacil.com.br

Sim, é simples assim. O tippet tem a mesma função
de um fusível num equipamento eletrônico: Romper ou abrir quando o limite para o qual foi projetado for ultrapassado protegendo o equipamento de uma avaria.  

Varas tenkara mais parrudas usam tippets 4X (0.18 mm) de no máximo 5 libras ou ainda mais finos dependo da ação desta.
Na média o tippet mais usado é o 5X (0.15 mm) de 4 libras de resistência. 
Usando este artifício simples vai proteger a vara de uma eventual quebra a não sacrificará o peixe além do limite razoável.

-Mas então, com tenkara, tendo que se usar tippet fino toda vez que eu pegar um peixão ele vai escapar?
-Vai!

Se você costuma pegar peixes muito grandes ou fortes a maior parte do tempo, tenkara não é pra você. Ou melhor, não é o equipamento adequado a tua realidade. Use um equipamento de fly tradicional ou de bait.

Equipamentos de pesca são como ferramentas e cada um tem uma função específica. Um torquímetro,
embora seja uma ferramenta avançada, não consegue fazer a função de um simples abridor de latas.

(Ado, a, ado, cada um no seu quadrado)

Boas pescarias.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Técnica, o mantra sagrado !



Quem tem 30 metros de linha mais uma centena de metros de backing pra arremessar a isca longe muitas vezes não se preocupa com os peixes que estão perto ainda que possa ser o troféu da sua via. O pescador quer saber de mandar a linha longe, ir buscar o  bendito peixe esteja ele onde estiver.

Ansioso pra fazer seu pincho ou seu cast, se aproxima da água sem maiores cuidados, pisando forte, as vezes entra nágua sem nem observar o que acontece nas imediações. Sei disso por que eu mesmo já o fiz muitas vezes só  pra perceber logo em seguida o "peixão" sair em disparada quase debaixo dos meus pés.

    Deste buraco aí saiu o baby tarpon da 2ª foto abaixo... (Vara custom by Jorge)


Espaço é algo que os japoneses sabem aproveitar como ninguém. Vivendo numa ilha montanhosa com terremotos constantes, muitas são as áreas impróprias pra moradia. Some a isso uma população de centenas de milhões de pessoas disputando espaço e se percebe que por lá cada cm² conta.

De certa forma essa valorização do espaço está também na tenkara.

Quando o pescador sabe que a distância que separa ele do peixe são apenas 6 ou 7 metros seu cérebro quase automaticamente traça uma logística de aproximação que outros pescadores, de bait ou fly,  muitas vezes ignoram.

Sabendo que cada cm conta, o "tenkareiro" chega com parcimônia  monta seu equipamento a uma distância que lhe permite observar o pesqueiro sem ser visto. Se percebe movimentação bem próximo da margem do lago ou rio ele faz um arremesso no qual apenas a ponta da linha, o tippet e  a isca caiam na água cobrindo  meros 1 ou 2 metros a partir da margem. 
Só depois de ter trabalhado aquele trecho minuciosamente ele, sempre observando em detalhe o que ocorre na água, avança mais um, dois ou três passos, faz novo arremesso e o trabalho recomeça.

Eu sei por experiência o quanto de peixes se pode tirar num pequeno trecho de água que a maioria das pessoas ignora. E as vezes é surpreendente o tamanho das capturas q se faz em pequenos poços onde muitos julgam nada ter.
Sem poder se utilizar de uma carretilha pra guardar centenas de metros de linha, o tenkareiro dá muito mais enfase a técnicas de aproximação e apresentação da isca e explora com mais afinco cada palmo de água. A maior qualidade técnica e maior valorização do espaço quase sempre se reflete na qualidade das capturas.

Tenkara é uma modalidade simples mas tem conceitos básicos que podem ser aplicados a outras modalidades.
Por isso eu sempre afirmo, sem medo de errar, que quem pesca com tenkara se torna um melhor pescador de fly ou bait por que aprende a valorizar o espaço e a aproximação/apresentação.

Sutileza na aproximação e na apresentação aliado a um trabalho minucioso de isca que visa cobrir cada cm de água é o mantra sagrado do tenkareiro.






sexta-feira, 5 de abril de 2013

Pescaria afetiva.


    Arroio Grande - RS
Tenho pescado quase exclusivamente com equipamento tenkara nos últimos 3 anos.
Não abandonei, nem nunca o farei, o equipamento de fly tradicional. Apenas momentaneamente
nas pescarias mais leves onde eu usaria uma vara de fly #3 ou menor tenho dado preferência a técnica japonesa.

Sei que mesmo nas pescarias que exigem um equipamento muito leve  a tenkara não substitui o equipamento
de fly totalmente. Haverá sempre exigência de apresentação específica
que um executa melhor do que o outro. Não me deixo cegar pela paixão, cada um no seu cada qual. 

O outro motivo que conduz minha maior preferência pela tenkara tem raízes "afetivo saudosistas"...

Me criei em beira de rio no interior do Paraná (Capanema), muito particularmente um riacho afluente
do Rio Iguaçu lá chamado arroio ou lajeado dos cachorros. lajeado por que o leito do mesmo era
de rocha pura mais do que cascalho (atualmente é mais lama do que água).

Neste córrego que a época tinha muita mata ciliar, água cristalina e era densamente povoado por
mandis, jundiás, traíras, Joanas (jacundá), saicangas, lambaris e outros, foi o cenário da minha primeira pescaria
feita com "caniço" de "criciuma" ou "chorão", linha 0.25 mm, chumbinho, anzol mosquito e minhoca.
Era a pescaria das crianças. Os adultos só pescavam de tarrafa e rede no Rio Iguaçu, lá estavam os peixes realmente grandes.
As saicangas de quase um quilo que pegávamos no caniço eram desprezadas pelos adultos.

Eu nunca fui seduzido pelo mantra do peixe grande. Sempre preferi ficar alí na "cascatinha" que se formava
no lajeado praticamente aos fundos da minha casa.
Mesmo hoje, 30 anos depois de ter ido embora, afetivamente continuo lá curtindo meus peixinhos na varinha de bambu!






quarta-feira, 3 de abril de 2013

Fly fishing com linha fixa, origens.

Muitos novos adeptos da pesca com mosca  e mesmo de outras modalidades se espantam com a "novidade" chamada tenkara que, graças a um brasileiro de Curitiba radicado nos EUA, tem se espalhado pelo lado ocidental do planeta e virou discussão importante nos sites e fóruns de pesca. 

O que poucos imaginam é que este tipo de pesca não tem nada de novo e está na história de várias culturas inclusive na do Brasil. O mais detalhado livro sobre esta modalidade praticada com vara (sem carretilha ou molinete), linha de tamanho fixo e usando moscas artesanais atadas sobre anzol feito de arame afiado e temperado a fogo foi escrito em 1653 por Sir Isaac Walton e Charles Cotton, intitulado "The compleat angler". O equipamento usado pelo senhor Walton, a época chamado de "loop rod," é considerado o precursor do equipamento de mosca moderno.  A vara era feita de madeira (lancewood), a linha podia ser seda, crina de cavalo e outros materiais, o tippet de tripa de gato.

Sir Walton praticando a pesca com mosca. Qualquer semelhança com tenkara pode não ser mera coincidência!
Imagem: http://freepages.genealogy.rootsweb.ancestry.com

Além da Inglaterra, no Brasil, no Japão e na Itália ( e em outros países também),  sistemas de pesca com linha fixa  e anzóis decorados com penas e pelos também coexistiram e eram (em alguns casos ainda são), praticados de maneira similar. 
No Brasil essa pesca que era dos índios e conhecida como pindá-siricá praticamente extinguiu-se. Embora haja ainda há alguns poucos ribeirinhos que a praticam não há sinais de interesse em manter a cultura que aos poucos vai sendo substituída por outras práticas.

Na Inglaterra a técnica de Sir Walton foi totalmente abandonada e substituída pelo fly ocidental moderno.

Na Itália, mais especificamente na porção norte no vale do rio Sésia desenvolveu-se um técnica similar a de Sir Walton e se manteve uma tradição chamada pesca a valsesiana. Os diferenciais é que as varas são relativamente maiores e se usam 3 a 4 iscas no tippet. Essa técnica ficou reclusa a aldeias daquela região e é praticada hoje como era séculos atrás.

No Japão, muito apegado as tradições, a tenkara inicialmente desenvolvida por pescadores profissionais de truta que as pescavam em rios de montanha, aos poucos também foi sendo substituída (mas não esquecida),  por outros meios mais produtivos. Sobreviveu por que (dizem), caiu nas graças dos samurais que viam nela uma prática nobre. O mérito dos Japoneses está no fato de, além de não abandonarem a prática tradicional, aprimorarem os equipamentos e as técnicas usadas ao longo dos séculos.

É por este mérito que a modalidade de pesca com mosca usando linha fixa atualmente tem o nome tenkara.
Não tivessem os Japoneses mantido e aprimorado tal tradição, Daniel Galhardo, o brasileiro de Curitiba que falei no início do post, não a teria descoberto e trazido aos EUA onde tomou o merecido destaque que desfruta atualmente.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Pesca COM mosca!

Uma pergunta recorrente que vejo nos fóruns e blogs internet a fora é se a modalidade tenkara pode ser considerada pesca com mosca.

Pra mim, é sim!

Na minha visão o que da nome a modalidade não é o equipamento mas a isca que se usa no final da linha/líder/tippet/encastoado.
A isca define o estilo e a estratégia de pesca a serem usados.

Assim, na minha visão, se usamos uma equipamento de mosca (fly) pra arremessar uma minhoca de jardim estamos praticando pesca COM isca natural. Se usamos uma vara de spining (molinete) ou baitcasting (carretilha) com bóia de arremesso e uma isca artesanal atada sobre um anzol (mosca, fly) no final do líder estamos pescando COM mosca.

Do mesmo modo pode se comprar uma vara tenkara top de linha, Japonesa da Daiwa/Shimano/Nissin e usar uma minhoca como isca ( se você comprou, a vara é sua e usa a isca que quiser), estará praticando pesca COM isca natural.

Tenkara é muito além de um sistema (vara, linha, isca) uma técnica muito apurada que está associada ao uso de iscas artesanais atadas (ou vestidas se preferir) com pelos, penas e fibras sobre um anzol único (não valem garateias) conhecidas como Kebari (飛ぶ) que numa tradução literal significa "voar"  e corresponde ao fly (mosca) dos americanos.

Então, se o amigo acha o nome tenkara meio esquisitão pode simplesmente chamar de pesca com mosca. Se alguém questionar  a falta da carretilha ou da linha de pvc tão característicos do fly (mosca) ocidental diga apenas que é pesca com mosca a moda japonesa.

Em outros posts voltarei a este assunto. Por hora só queria deixar gravado minha opinião pessoal sobre o tema.
Abraço.

Kebaris atadas por Arnaldo Medeiros





Tenkara, a pesca minimalista!

Para alguns a palavra minimalista é apenas outro nome pra preguiçoso ou até mesmo pão duro e sovina. Para o minimalista praticar o minimalismo significa se ater ao essencial, não ser fútil nem amar o supérfluo. Há minimalistas radicais que entram na selva com apenas um canivete e alguns gramas de sal pra sobreviver semanas. Há os moderados que se permitem levar uma barraca e um kit de sobrevivência  contanto que tudo caiba numa mochila. 
fonte: http://moderntokyotimes.com

Eu sou um minimalista moderado, quero o essencial, a praticidade mas não abro mão de algum conforto e qualidade de vida . E o que isso tem a ver com pesca esportiva?
Bom, acho difícil ter um ramo da atividade humana no qual se consegue acumular mais quinquilharias do que este. Então ser minimalista nesse esporte não é apenas questão de organização mas também de economizar dinheiro não gastando com bobagens que você nunca vai usar.

Não sou uma pessoa muito organizada (podem me chamar de preguiçoso), por isso ser minimalista sempre facilitou as coisas pra mim. Quanto  menos coisas você tem pra se ocupar mais tempo lhe sobra pra aproveitar o que de fato lhe interessa. E as vezes, mesmo tendo uma atitude minimalista, me impressiona o quanto de "lixo"  somos capazes de acumular na vida.

Tenkara (ou fly caipira, valsesiana, loop rod, etc, em outros posts falarei sobre estas outras designações), foi desenvolvida por pescadores japoneses profissionais que precisavam de uma técnica rápida, leve, eficiente, capaz de proporcionar o maior número de capturas no menor tempo possível (tempo é dinheiro, já se sabia disso no Japão do Samurais).

Ela não se desenvolveu da noite pro dia, mas com o passar dos séculos chegou a um ponto onde a praticidade e simplicidade não poderiam ser reduzidas a menos do que aquilo; uma vara, uma linha, uma isca. 

O que se poderia fazer era melhorar a qualidade dos materiais empregados e aprimorar a técnica.
E assim foi, com o passar do tempo as varas de bambú deram espaço as de fibra de carbono, as linhas de crina de cavalo deram lugar ao fluor carbono. As iscas, estas pouco mudaram, apenas os anzóis que hoje são de muito melhor qualidade. Mas os materiais de atado para confecciona-las continuam praticamente os mesmos da era feudal.

No ocidente onde existem muitas outras espécies além da truta que era o peixe alvo dos japoneses, a tenkara ganha outros contornos e adaptações de técnicas e iscas mas o sistema original (vara, linha, isca) continua o mesmo pois não há como simplifica-lo. Este é um sistema que chegou ao limite do minimalismo, a perfeição!